O Instituto Água Conecta, em parceria com o Comitê Camboriú, está desenvolvendo o projeto Enquadramento dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, nomeado “Pensando o Futuro: o rio que queremos”. O projeto é composto por 4 etapas e teve a primeira parte validada no início de fevereiro pelo Comitê Camboriú, com a apresentação das últimas correções no “Diagnóstico da qualidade da água dos corpos hídricos para elaboração de proposta de enquadramento da UPG 7.2 - Camboriú”, durante a 1ª Assembleia Ordinária de 2024 do Comitê.
O Diagnóstico é a base para a elaboração da Proposta de enquadramento dos corpos hídricos, instrumento de gestão que define metas e indicadores de qualidade para os diferentes usos da água para horizontes de curto, médio e longo prazo. Durante a etapa do Diagnóstico são identificadas as principais características da bacia hidrográfica, uso e ocupação da terra, identificação dos usos de água, bem como dos efluentes e cargas poluidoras, além de informações sobre disponibilidade hídrica, águas subterrâneas, áreas vulneráveis, com risco de poluição, entre outras.
Para o estudo, iniciado em fevereiro de 2023, foram utilizados principalmente dados do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú e Bacias Contíguas. Também foram usados dados do último Censo Demográfico de 2022 do IBGE, dados de automonitoramento de empresas licenciadas pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina), e dados do CEURH (Cadastro Estadual de Usuários de Recursos Hídricos), do SIOUT-SC (Sistema de Outorga de Água de Santa Catarina), e do CNARH (Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos), fornecidos pela SEMAE (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e da Economia Verde).
Além disso, outra etapa importante, foi a atualização dos dados de qualidade da água superficial, por meio de estudos do repositório da UNIVALI, Programa Qualiágua SC, dados de monitoramento da EMASA, bem como, os dados de qualidade de águas subterrâneas, por meio do Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS, 2023) do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM, 2023), CNARH e SIOUT.
“Trata-se de um projeto extenso, com análise de uma série de dados hidrológicos, fisiográficos, de qualidade da água, da água subterrânea, de demografia e caracterização socioambiental. O diagnóstico tem o papel de fornecer um panorama atualizado sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú. Sem essas informações não podemos definir o marco zero da qualidade, tampouco ações e projetos para melhoria da qualidade da água no Rio Camboriú. Com esse diagnóstico, podemos avançar na próxima etapa, o prognóstico, para possibilitar o alcance do rio que queremos” - explica, Dr. Gustavo Antonio Piazza, Engenheiro Ambiental, Mestre e Doutor em Engenharia Ambiental, um dos responsáveis pelo projeto de Enquadramento dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú.
Mapeamento detalha tipos de uso e características da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú
A Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú possui uma área de 220 km² e abrange os municípios de Balneário Camboriú, Camboriú e uma pequena porção de Itajaí. Na Unidade de Planejamento e Gestão (UPG) 7.2 - Camboriú, além do Rio Camboriú, existem outros sistemas de drenagens independentes como o Rio Marambaia, o Rio Ariribá e outros menores. O uso e ocupação da terra é principalmente de florestas nativas (55%), pastagens (22%) e área urbana (12%).
Em relação aos usos da água, foram identificados 137 cadastros no CEURH. Destes, 59 são de irrigação, 12 abastecimento público, 11 uso industrial, 9 aquicultura, 3 mineração, enquanto 39 são para outros usos. Pelo SIOUT-SC foram mapeados 21 cadastros, sendo 4 para consumo humano, 4 para uso industrial, 3 abastecimento público e 3 para lançamento de efluentes.
Águas Subterrâneas da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú
Um dos pontos de destaque do Diagnóstico da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú foi a análise das águas subterrâneas. Esse tipo de estudo é pioneiro no país, e tem como foco os aquíferos e reservatórios de água utilizados para diferentes fins. Nas análises preliminares sobre a qualidade das águas subterrâneas foram identificados níveis elevados de ferro e manganês em 8 poços da região. Apesar dessa condição estar associada à geologia dos aquíferos, essas regiões merecem destaque, já que podem, inclusive, ocasionar restrições quanto aos usos da água, sendo necessário a continuidade dos estudos.
Além disso, foram analisados os níveis de vulnerabilidade dos aquíferos, isto é, a relação entre suas características naturais, a profundidade da água subterrânea e a susceptibilidade à contaminação. As regiões sul e sudeste de Balneário Camboriú (faixa das praias agrestes), bem como o sudeste de Camboriú (bairros Centro, Cedros, Macacos e Santa Regina), apresentaram um alto nível de vulnerabilidade. Cabe salientar que essa vulnerabilidade é intrínseca às condições geológicas destes locais. Essas regiões representam 46%dos poços analisados.
Próximos passos: prognóstico da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú
A segunda etapa do projeto do Enquadramento dos Recursos Hídricos compreende o Prognóstico da Bacia Hidrográfica, o qual foi apresentado no dia 27 de março durante a Assembleia Geral Extraordinária do Comitê Camboriú. O documento deve ser analisado pelos membros do Comitê nos próximos meses, com a inclusão de comentários e realização de ajustes até o final de junho de 2024.
Trata-se de uma etapa no qual são analisados os cenários de impacto sobre os recursos hídricos superficiais, a partir da implementação dos planos e programas de desenvolvimento previstos para a Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú. No prognóstico são considerados horizontes de curto (2028), médio (2033) e longo prazo (2038), para disponibilidade, demanda de água e lançamentos de cargas poluidoras.
A atualização da etapa do Prognóstico é essencial para o planejamento e gestão da bacia hidrográfica, tendo em vista que a região do Rio Camboriú já apresenta estudos científicos e o próprio Plano de Bacia que apontam para uma crise hídrica nos próximos anos.
