Entre os dias 21 e 24 de outubro de 2024, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) – Campus São Miguel do Oeste, que é uma das organizações-membro do CBH Antas e Afluentes do Peperi-guaçu, sediou a 21ª Semana de Ciência e Tecnologia, com o tema "Biomas do Brasil: Diversidades, Saberes e Tecnologias Sociais". O evento tem como objetivo afirmar a importância da preservação da diversidade dos biomas brasileiros, valorizando os saberes locais, propondo e aprimorando tecnologias sociais e divulgando o papel da ciência, tecnologia e inovação para manutenção da biodiversidade.
Durante o evento, a palestrante Nayara Spaniol, integrante do Comitê Antas, compartilhou conhecimentos sobre a *Mata Atlântica*, um dos biomas mais ricos e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do Brasil. Sua palestra, intitulada "Mata Atlântica: Riquezas Naturais, Desafios e Soluções Locais para a Conservação", destacou a importância deste bioma para a biodiversidade brasileira e os principais desafios enfrentados na sua preservação.
A importância e a complexidade da Mata Atlântica
Nayara iniciou sua palestra com um panorama detalhado da Mata Atlântica, destacando sua vasta abrangência territorial e sua grande diversidade de ecossistemas. Originalmente, o bioma se estendia ao longo da costa brasileira, do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, atravessando 17 estados e cobrindo integralmente as áreas dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Contudo, a cobertura original do bioma sofreu severas alterações ao longo dos anos devido à expansão da urbanização, agricultura, silvicultura, pastagens e outras atividades humanas. Hoje, o que resta da Mata Atlântica são fragmentos florestais, muitas vezes pequenos e isolados, o que compromete a continuidade ecológica e a preservação da biodiversidade local.
Nayara ressaltou que, apesar de sua denominação como "Mata Atlântica", o bioma é composto por uma grande diversidade de ambientes, com formações vegetais, climas e solos distintos, o que confere a ele uma complexidade única. Além das florestas, a Mata Atlântica abriga ecossistemas não florestais, como campos de altitude, restingas e manguezais, que são igualmente ricos em biodiversidade e fundamentais para a manutenção dos serviços ambientais que esse bioma oferece.
Um hotspot de biodiversidade e os desafios da conservação
Um dos pontos centrais da palestra foi a caracterização da Mata Atlântica como um "hotspot de biodiversidade". Esse conceito ecossistêmico se refere a áreas do planeta que possuem alta diversidade de espécies e, ao mesmo tempo, grande número de espécies endêmicas (que ocorrem exclusivamente nesse bioma) e ameaçadas de extinção. A degradação ambiental, decorrente da perda de habitat, coloca essas espécies em risco, tornando a conservação da Mata Atlântica uma prioridade para a manutenção da biodiversidade global.
"Nossa Mata Atlântica é, sem dúvida, um dos mais ricos reservatórios de vida do planeta, mas está em constante ameaça devido à pressão humana. A preservação da flora e fauna desse bioma é essencial não só para o Brasil, mas para o equilíbrio ambiental global", afirmou Nayara.
O papel do Comitê Antas na conservação e gestão dos recursos hídricos
Outro aspecto abordado durante a palestra foi o trabalho desenvolvido pelo Comitê Antas, no qual Nayara atua, para a preservação da Mata Atlântica e a gestão sustentável dos recursos hídricos. O Comitê Antas e Afluentes do Peperi-guaçu integra 35 municípios e tem como principal objetivo promover a gestão compartilhada das bacias hidrográficas, promovendo discussões sobre o uso racional da água e a preservação do meio ambiente.
A palestrante explicou que o Comitê é um órgão consultivo e deliberativo, com forte atuação na tomada de decisões sobre a gestão dos recursos hídricos da região. A integração de diferentes segmentos da sociedade, como órgãos públicos, população local e usuários de água, é uma das chaves para o sucesso da gestão integrada dos recursos naturais. Além disso, o Comitê de Bacias também envolve temas inter-relacionados à gestão hídrica, como a conservação do solo, a preservação das matas ciliares, a gestão de resíduos e a proteção da biodiversidade, incluindo a preservação das florestas da Mata Atlântica.
Desafios e soluções para a conservação local
A palestra de Nayara não se limitou apenas a apresentar os problemas. Ela também compartilhou iniciativas locais de sucesso na preservação da Mata Atlântica, muitas delas promovidas diretamente pelo Comitê Antas. A integração das comunidades, o incentivo à adoção de práticas sustentáveis por produtores rurais e o monitoramento de áreas de preservação permanente são algumas das ações que têm se mostrado eficazes para proteger os remanescentes florestais e, ao mesmo tempo, garantir o uso responsável dos recursos naturais.
"A conservação da Mata Atlântica é um esforço coletivo. Todos os setores da sociedade têm um papel crucial a desempenhar. No Comitê Antas, buscamos envolver a população local, agricultores, órgãos ambientais e outros atores para promover a sustentabilidade e garantir que as futuras gerações possam continuar a usufruir dos benefícios desse bioma", destacou Nayara.
A palestra de Nayara Spaniol foi uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre a importância da Mata Atlântica, os desafios que ela enfrenta e as soluções possíveis para garantir sua preservação. O trabalho contínuo de organizações como o Comitê Antas e Afluentes do Peperi-guaçu, que buscam integrar ações de gestão ambiental e recursos hídricos, é fundamental para a construção de um futuro mais sustentável e para a proteção deste bioma essencial para a biodiversidade brasileira.