Comitê de Gerenciamento Bacia Hidrográfica do 

Rio Araranguá

Água a preço de ouro.

24/10/2006
Água a preço de ouro
São Paulo - Nos últimos anos, várias empresas não ligadas ao mercado de água vêm fazendo uma enxurrada de investimentos no setor. A General Electric, liderada pelo executivo Jeff Immelt, por exemplo, que é mais conhecida por fabricar turbinas de aviões e locomotivas, já usou 4 bilhões de dólares para encampar companhias de purificação e tratamento de água. Até 2010, a GE espera que toda essa nova operação renda um faturamento anual de cerca de 5 bilhões de dólares. Irá competir com outras multinacionais que também começaram há pouco tempo a dirigir a atenção para essa área (veja quadro). A 3M é um desses casos. A companhia nunca havia dado grande importância ao mercado de água, apesar de cultivar há muito tempo um dos portfólios mais variados de produtos da indústria. No ano passado, a 3M finalmente entrou firme no ramo, investindo 1,3 bilhão de dólares na aquisição da americana Cuno, fabricante de equipamentos para filtração de gases e líquidos.

As maiores multinacionais do mundo estão investindo no ramo porque a água vem se tornando uma mercadoria cada vez mais valiosa. Atualmente, os negócios relacionados a equipamentos e serviços nessa área já movimentam 365 bilhões de dólares por ano, segundo estimativas do mercado. A perspectiva é que esse valor chegue a 500 bilhões de dólares nos próximos dez anos. No momento, as ações de empresas ligadas ao mercado de água já apresentam desempenho melhor que os papéis de companhias de petróleo e gás. Exemplo disso é a performance do índice World Water Index, da agência Bloomberg, que reúne 11 empresas do setor. O rendimento médio anual dessa carteira é de 35%, comparado aos 29% das ações de empresas de petróleo e gás.

O fenômeno da valorização do mercado de água nasceu das mesmas raízes que geraram a explosão do preço do petróleo nos últimos anos a ameaça de escassez. Segundo o último relatório da ONU sobre o assunto, 20% da população mundial mais de 1 bilhão de pessoas não tem acesso a água potável. Além de ocorrer a falta de fontes em algumas regiões, como o Oriente Médio, é muito comum encontrar países fazendo mau uso do recurso. A China, por exemplo, poluiu um terço de seus rios. Por isso, o racionamento de água é freqüente no interior do país. Mesmo o Brasil, que possui quase 20% das reservas disponíveis no planeta, também tem problemas. Por aqui, a dificuldade é a distribuição do recurso mais de 70% da água está
concentrada na Amazônia, onde vivem menos de 10% dos brasileiros.

A escassez de água é hoje uma questão de dinheiro - muito dinheiro. Segundo estudo de uma entidade ligada ao Conselho Mundial da Água, fórum intergovernamental criado para tratar de aspectos relacionados à administração do recurso no planeta, serão necessários investimentos de 180 bilhões de dólares por ano em infra-estrutura hídrica para resolver o problema da escassez. O conjunto de gastos atuais do setor, contudo, não chega hoje a metade disso. Considerando-se que a conta esteja correta e partindo do princípio de que nenhum governo tem dinheiro suficiente para bancar o volume de obras necessárias, investir em água virou uma enorme oportunidade. Segundo estudo do Pictet Asset Management, banco de investimentos suíço, a participação das empresas privadas nesse setor deve passar dos atuais 9% para 16% em 2015 no mundo.

Um dos grandes focos de investimento da iniciativa privada é a criação de novas tecnologias de irrigação de campos para agricultura e em processos de dessalinização da água dos oceanos. A maior obra do gênero na América Latina foi concluída em maio pela multinacional francesa Suez, ao custo de 28 milhões de dólares. Trata-se da estação de tratamento para abastecer o complexo de Minera Escondida, a maior mina de cobre do mundo, localizada no deserto do Atacama, no Chile. O projeto teve parte de sua tecnologia desenvolvida pela Dow Chemical. Depois de ser sugada dos mares do Pacífico, a água passa por um tratamento que retira o sal e viaja por 170 quilômetros em dutos até chegar aos reservatórios do local.

Apesar de sucessos como a obra de Minera Escondida, é improvável que o aporte de recursos privados nos países em desenvolvimento seja capaz de fazer frente aos desafios. De acordo com relatório recente da ONU, durante a década de 90 o setor privado investiu cerca de 25 bilhões em suprimento de água e saneamento nos mercados emergentes, principalmente na América Latina e na Ásia. Segundo o mesmo trabalho, o volume de investimentos vem diminuindo desde então. O motivo é que, nos últimos anos, muitas companhias multinacionais de água começaram a sofrer com os altos riscos políticos, financeiros e regulatórios dos países em desenvolvimento, o que levou a uma retração nos desembolsos. É uma situação que tende a se tornar dramática, pois são justamente as regiões pobres as que mais precisam de capital para resolver seus graves problemas. No Brasil, o cenário não é muito diferente.
As companhias privadas ainda não entraram para valer no jogo mais de 90% do setor continua nas mãos do governo. E é improvável que isso mude no curto prazo. `Dificilmente as empresas privadas vão aumentar sua participação no setor, pois não há incentivos nem garantias para o capital`, diz Benedito Braga, vice-presidente do Conselho Mundial da Água.

Sede de negócios

Os principais investimentos de grandes empresas no mercado de água.

Dow Chemical
Criou em setembro uma unidade de negócios exclusiva para esse mercado. A expectativa é que, por ano, ela fature 350 milhões de dólares.

General Electric
Nos últimos anos, investiu 4 bilhões de dólares na aquisição de quatro empresas de tecnologia de purificação de água.

Siemens
Adquiriu sete empresas envolvidas no tratamento de água. Somente na compra da U.S. Filter, em 2004, gastou cerca de 1 bilhão de dólares. (Melina Costa)

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