Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do 

Rio Jacutinga e Bacias Contíguas

Chuvas intensas trazem prejuízos aos municípios Destaque

17/11/2023

O excesso de chuvas ocorridas nos meses de outubro e novembro deste ano trouxeram consequências ambientais e econômicas aos municípios situados na área de abrangência do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jacutinga e Bacias Contíguas. Deste modo, o elevado índice de precipitações pluviométricas, por vezes, localizadas, provocaram alagamentos de áreas urbanas, enxurradas, quedas de barreiras nas rodovias, entupimento de bueiros e prejuízos às edificações públicas, residenciais e comerciais, localizadas às margens dos rios. Com 542 milímetros de chuva em 31 dias, o mês de outubro de 2023 registrou o maior volume de precipitação no município de Concórdia (SC) desde que a estação agrometeorológica da Embrapa Suínos e Aves começou a fazer o acompanhamento em 1987, localizada no Distrito de Tamanduá. Até então, o recorde era de 533 milímetros em outubro de 1997.

Além disso, o dia 4 de outubro também registrou o maior volume de chuvas em um único dia, com 138 milímetros, superando o dia 14 de julho de 2015, quando foram observados 136 milímetros precipitados.

Ainda, com a chuva registrada em setembro e outubro, o volume acumulado em 2023 superou em 10,8% a média esperada para o ano, chegando a 1.759 mm nos primeiros dez meses, enquanto historicamente foram registrados 1.587 mm.

Todos os dados estão disponíveis na página da estação agrometeorológica da Embrapa Suínos e Aves, no endereço https://sistemas-ext-cnpsa.nuvem.ti.embrapa.br/meteor/

10 meses mais chuvosos em Concórdia

*Desde 1987, em mm:

542, outubro de 2023

533, outubro de 1997

477, fevereiro de 1998

469, setembro de 2009

437, junho de 2014

434, maio de 2017

416, dezembro de 2003

409, maio de 1992

402, janeiro de 2010

399, setembro de 2000

 

10 dias mais chuvosos no município de Concórdia

*Desde 1987, em mm:

138, 04.10.2023

136, 14.07.2015

123, 26.06.2014

119, 14.06.2015

118, 20.01.2010

117, 05.06.1990

117, 02.04.2005

114, 29.05.1990

114, 15.02.2019

112, 27.03.2011

 

O Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Dr. Alexandre Matthiensen, entende que são necessários avanços nos quesitos gestão dos recursos hídricos e planejamento, uma vez que a região é ciclicamente assolada pelos efeitos da escassez ou do excesso de chuva. "Minha avaliação é simples: falta de gestão dos recursos hídricos e falta de planejamento em todos os níveis, desde o produtor até os gestores públicos da administração municipal e estadual. De uma forma geral, os problemas com água se encaixam sempre em três tipos: falta de água, excesso de água e água em qualidade inferior ao uso destinado. Recentemente estávamos preocupados com a estiagem forte que assolava a região e em como isso poderia trazer prejuízos para o sistema produtivo. Agora, estamos preocupados com o excesso de água, e, como isso, pode trazer prejuízos para o sistema produtivo. Ou seja, foi só começar a chover que os problemas da estiagem foram esquecidos. E quando parar de chover e os rios baixarem os problemas de enchentes serão novamente esquecidos. Até que o próximo evento de estiagem ou excesso apareça. Como temos uma quantidade enorme de recursos hídricos em nossa região, a gestão desses recursos não é vista como importante ou relevante, a não ser quando sua falta ou seu excesso incomoda o bolso ou a imagem pública de alguém", assinala.

 

O avanço dos modelos meteorológicos

Conforme Matthiensen, houve avanços nos modelos meteorológicos, porém, o que preocupa é o aumento da incidência de eventos extremos. "Os modelos matemáticos atuais são muito mais confiáveis que os do passado, e as tecnologias de I.A. e machine learning já estão atuando nessas frentes também, de modo que os modelos são auto ajustáveis, conforme maior input de dados são realizados. Mas, o que estamos observando atualmente é que as mudanças climáticas globais, potencializadas pelas ações antrópicas devido ao sistema de produção e consumo atuais, aumentam a imprevisibilidade do clima, de modo que as séries históricas, talvez, contribuam menos para as previsões futuras do que contribuíram no passado. Dessa forma, a melhora nos modelos matemáticos é contrabalanceada pelo aumento das frequências e intensidades dos eventos extremos de forma nunca visto anteriormente", observa o Pesquisador.  "Um exemplo disso, e que influencia muito o clima na nossa região, é o atual El Niño. Esse fenômeno é causado pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico, que altera temporariamente a distribuição de umidade e calor no Planeta todo. No Brasil, ele causa secas nas regiões Norte e Nordeste e chuvas intensas e volumosas no Sul. Historicamente, ele ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos, com duração média de um ano a um ano e meio, com início normalmente nos últimos meses do ano. Mas esse padrão observado no passado pode estar sendo alterado, aumentando a frequência e a intensidade dos eventos. É com esse tipo de imprevisibilidade que teremos que nos preparar no futuro", complementa.

 

Tecnologias para reter o excesso de água

Ciclicamente, a região de abrangência da Bacia Hidrográfica do Jacutinga sofre com a escassez de chuva.  De acordo com o pesquisador Alexandre Matthiensen, há mecanismos capazes de reter essa quantidade em excesso, minimizando os impactos nos períodos de estiagem. " Há diversas tecnologias possíveis e disponíveis para captação/retenção, armazenamento e aproveitamento de água da chuva de forma mais racional. Vários institutos de pesquisa e universidades possuem inúmeros trabalhos apresentando, de forma simples, essas tecnologias e iniciativas, tanto para o meio rural quanto para o meio urbano. Há exemplos positivos ao redor do mundo de cidades sustentáveis em relação à água, cidades que reformaram todo o entorno de rios urbanos para se prepararem para as próximas enchentes, zonas rurais com saneamento básico em todas as propriedades. Porém a implementação de muitas dessas tecnologias ou iniciativas requer recursos e vontade política", pontua. "Quando começa a chover, as discussões sobre combate à escassez hídrica somem e só voltamos a ouvir notícias disso apenas quando a próxima estiagem chegar. A população não cobra o que foi prometido e não foi cumprido, a mídia não divulga o que não foi feito, uma nova eleição é realizada e novos gestores são alçados aos cargos de liderança para fazerem as mesmas coisas, e dessa forma vamos novamente entrando no ciclo vicioso de apagar incêndios e não nos prepararmos adequadamente para o próximo. É impossível obtermos resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa", finaliza.

  

A opinião do Comitê

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jacutinga e Bacias Contíguas, Janiel Giron, os municípios foram os maiores prejudicados pelas consequências das chuvas. " Acredito que embora tenhamos muitos prejuízos, alguns privados, mas a maioria entendo que estão no “colo” das prefeituras, isso em razão principalmente dos danos causados nas estradas rurais e suas estruturas, (pontes, bueiros). A nossa região não sofreu muitas consequências. Passamos, de certa forma, menos afetados com relação a outras regiões do Estado. Mas, é claro que precisamos estar atentos, sempre, pois, são fenômenos climáticos que podem a qualquer momento trazer danos mais grave à região", opina Giron.

De acordo com Janiel Giron, "o Comitê já vem trabalhando há mais de 20 anos, e muitas ações já foram desencadeadas de forma conjunta com as entidades da região. Quando o Comitê menciona, por muitas vezes, que devemos nos preocupar com a gestão dos recursos hídricos, não estamos só falando em economizar água, ou, incentivando tecnologias para armazenamento nos períodos de estiagem, mas, quando falamos em preservar as faixas ciliares de acordo com seu curso hídrico, ou quando mencionamos sobre boas práticas de conservação de solo, tudo isso contribui significativamente para minimizar os impactos dos grandes volumes de precipitação", complementa.

Parceiros Parceiros Parceiros Parceiros

(48) 3665-4200

Horário de Atendimento:

2a a 6a | 12h às 19h

Rod SC 401, km5, 4756 Ed. Office Park, bl. 2

Saco Grande, Florianópolis CEP 88032-00